O mau alinhamento do que chamamos de “aparelho extensor” (figura 1), um conjunto de estruturas da frente do joelho composto pela patela, tendão patelar e músculo quadríceps é um problema comum na prática ortopédica, acometendo, principalmente pacientes do sexo feminino.

O aparelho extensor do joelho. As setas azul, vermelha, amarela e verde mostram o músculo quadríceps, patela, tendão quadricipital e patelar, respectivamente.
Pessoas que possuem o que chamamos de genu valgo, ou seja, joelho em “x” leva ao aumento do ângulo Q (angulo quadricipital), fazendo com que diminua a contenção da patela. Isso, associado à hipotrofia ou diminuição de força do músculo vasto medial força a patela a sua lateralização, principalmente entre os ângulos de 30 e 60 graus e, dependendo da quantidade de energia cinética, a patela sai de seu “trilho” e luxa para fora do joelho (figura 2).

O primeiro episódio é geralmente seguido de dor intensa, inchaço e incapacitação imediata. Em geral, o paciente não consegue recolocar a patela em seu lugar, sendo necessária a redução em serviço de emergência ortopédica. Luxação aguda da patela de joelho esquerdo do atleta (figura 3).

Conceitualmente, reconhecem-se situações distintas para a instabilidade da articulação patelo femoral, sendo a luxação habitual do joelho aquela que ocorre toda vez que o joelho é flexionado; a recidivante, a que ocorre ocasionalmente com frequência variável, caracterizada, portanto, por episódios isolados frequentemente associados à história de trauma acompanhado de dor intensa e edema, à forma permanente, presente desde o nascimento, causada, portanto, por alterações congênitas, e situações de subluxação em qualquer dos casos.
Devido à grande incapacidade que a instabilidade femoropatelar do joelho provoca no paciente, seja para o desenvolvimento da prática esportiva e mesmo em suas atividades diárias, o tratamento dessa patologia é motivo de grande interesse.
A insuficiência do VMO levará ao arrastamento lateral da patela. O treinamento do VMO é importante para eliminar a disfunção patelo-femural. Entretanto, na literatura ainda há controvérsias sobre a ação muscular na estabilização patelar, enquanto alguns trabalhos sugerem haver desequilíbrios na amplitude da atividade elétrica dos músculos vasto medial oblíquo (VMO) e vasto lateral (VL), outros não observaram este fato. Ultimamente, tem sido dado especial interesse nos músculos estabilizadores do quadril, em especial os glúteos médio e mínimo e rotadores laterais, pois sua estabilidade preveniria o “tilt” lateral do joelho.
Este tem sido o tratamento de escolha para os pacientes que tiveram três ou mais episódios BEM DEFINIDOS de luxação femoropatelar, pois acredita-se que o afrouxamento das estruturas de contenção medial (da parte de dentro) do joelho façam com que a ação muscular seja insuficiente em segurar a patela em seu “trilho”.
Inúmeras técnicas já foram descritas no tratamento cirúrgico desta doença, mas há 10 anos tem sido empregada a técnica de reconstrução do ligamento femoropatelar medial com excelente resultados (figura 4).
O enxerto utilizado pode ser tanto o tendão gracil, quanto o semi-tendineo a fixação do mesmo na patela pode ser feita com parafusos ou ancoras.

Esquema mostrando a reconstrução do ligamento femoropatelar medial e sua fixação do fêmur e patela
Fonte: https://adrianoleonardi.com.br/artigos/instabilidade-femoropatelar-joelho/